sábado, 4 de julho de 2009

ferinhas =)


uma pequena amostra das minhas manhãs e tardes =)


a bruxa de oz

“- não queres esperar pelos jornais da manhã para ver o que dizem? Se é que dirão alguma coisa?
- tu depois mandas-me um. Não, tenho de ir, estou a precisar de ar fresco. Avaric, madame, amigos, foi uma surpresa e, suponho, um prazer. – Mas sentiu um certo ressentimento ao dizê-lo.
- um prazer para alguns – disse a esposa do margrave, que não apreciou nada a conversa. – parece-me impróprio falar sobre o mal durante toda uma refeição. Estraga a digestão.
- ora, ora – contrapôs a Bruxa -, será que só na juventude é que nos é permitido ter a coragem de fazermos a nós mesmos perguntas assim tão sérias?
- bom, eu fico-me pela minha sugestão – respondeu Avaric. – o mal não é cometer más acções, é sentirmo-nos mal depois das cometermos. Não existe nenhum valor absoluto inerente ao comportamento. Em primeiro lugar...
- inércia institucional – reinvidicou a Bruxa. – mas, afinal de contas, o que é que tem o poder absoluto assim de tão encantador?
- é por isso que eu digo que se trata apenas de um padecimento da psique, como a vaidade ou a ganância – aventou um magnata do cobre. – e todos sabemos que tanto a vaidade como a ganância podem dar origem a resultados espantosos nas relações humanas, nem todas repreensíveis.
- é uma ausência do bem, nada mais – argumentou a sua amante, uma colunista do Informer de Shiz. – a sua natureza do mundo é ser calmo e engrandecer e apoiar a vida, e o mal é uma ausência da inclinação natural da matéria para estar em paz.

- disparate – contrapôs Avaric. – o mal é um estádio primevo do desenvolvimento moral. Todas as crianças são más por natureza. Os criminosos são apenas aqueles que não progrediram...
- penso que seja uma presença, não uma ausência – interrompeu um artista. – o mal é uma personagem escarnada, um incubo ou um súcubo. É um outro e não nós.
- nem sequer eu? - respondeu a Bruxa, desempenhando o papel mais convincentemente do que esperava – uma assasina autoconfessa?
- ora, ora – respondeu o artista. – todos nós nos mostramos sob o nosso melhor ângulo. E isso é apenas uma vaidade normal.
- o mal não é uma coisa, não é uma pessoa, é um atributo, como a beleza...
- é um poder, como o vento...
- é uma infecção...
- é metafísico, essencialmente: a corruptibilidade da criação...
- assim sendo, culpemos o Deus Inonimado.
- mas será que o Deus Inonimado criou o mal intencionalmente, ou terá sido um mero erro cometido durante a criação?
- não é uma coisa do etéreo e da eternidade, o mal. Pertence à esfera do terreno, é físico, uma desarticularção entre os nossos corpos e as nossas almas. O mal é inanemente corpóreo, são seres humanos a causar dor uns aos outros, nem mais nem menos...
[...]
- não, estão todos errados, a nossa religião de infância é que é certa: o mal é, no seu âmago, moral... é a escolha do vício em detrimento da virtude. Podem fazer de conta que não o sabem, podem racionalizar a questão, mas, na vossa consciência, sabem que é assim...
- o mal é uma acção, não um apetite. Quantos de nós não desejámos já cortar a goela a algum conviva menos agradável sentado à nossa frente numa mesa? [...] toda a gente tem esse apetite. Se cedermos a ele, isso sim, esse acto, é que é maléfico. O apetite, o desejo, é normal.”

in "a bruxa de oz", Gregory Maguire, pag 447, 448

esta é uma das minhas passagens preferidas do livro que o Chicken me emprestou!!
dá que pensar sobre "o mal". é algo que nasce com todos, mas todos temos a opção de o prender dentro da nossa maneira de ser ou de o trazer à superfície agindo através dele...